domingo, 21 de junho de 2009

Aquino, Agostinho e o Belo

“As alegrias da visão, da audição, do olfato, do tato nos abrem para a beleza do mundo, para que nela descubramos o reflexo de Deus”. Através destas palavras, o filósofo e bispo católico, Santo Agostinho declara o princípio que por toda a Idade Média norteia o pensamento estético. Para ele a essência do belo estava para além do mundo físico. À parcela perceptível ele chama de signo. “Ele afirma com energia que o signo é toda coisa que faz vir à mente alguma coisa além da impressão que a própria coisa causa a nossos sentidos” (Eco, 2000). Para ele deste signo emana uma verdade maior que a captada pelos homens, aquilo contemplado pelos sentidos trata-se apenas de uma parcela da perfeição, que por sua vez só poderia ser desfrutada por um espírito iluminado, por um coração atingido pela graça divina. Agostinho acredita que é impossível conceber qualquer coisa que seja superior a esta verdade que é Deus porque Ele está acima do universo e dos homens, pois trata-se de lugar e foco das verdades. Ele pode ser chamado de o “não verdadeiro”, o “não bem”, mas é chamado de belo. Então o belo seria superior ao bem e ao verdadeiro, seria a sedução divina que invencívelmente atrairia os homens para Deus.
Contudo, em fins do século XIII a mente do homem da idade média sofre mudanças significativas, não há mais lugar para a imposição e muitos conceitos deixam de ser exclusivos de Deus. Esse é o cenário em que surge São Tomás de Aquino que institui três condições da beleza: “integridade, porque a inteligência ama o ente, proporção, porque a inteligência ama a ordem e ama a unidade, enfim e, sobretudo, esplendor ou clareza, porque a inteligência ama a luz e a inteligibilidade”. Ao contrário da imposição ética e teológica de Platão e Agostinho, o aquinino explicita que a estética começa sensualista e empírica com o hedonismo da vista, que nada mais é do que o agrado, o prazer imediato sobre o objeto, depois ergue-se na estética do juízo, onde temos o “direito” de dizer se um objeto nos agrada ou não, e volta a superioridade do juízo racional, que é o juízo encontrado nos homens. Dois de seus jaezes para o belo são colhidos do pensamento aristotélico e a terceira permanece em seus padrões. A primeira consiste na integridade ou perfeição, o belo causa prazer. É necessário que o ente belo seja bom e, principalmente, bom de conhecer-se. Portanto, o belo tende à perfeição da coisa conhecida; ele é a natureza perfeita da coisa conhecida, ou seja, todas as características que pertencem ao objeto devem estar no objeto. A segunda, a justa proporção ou harmonia, o belo abrange a relação entre as diversas partes que o constituem. De Munnynck, apoiando-se principalmente na Suma Teologica, sugere que a devida proporção é dupla: objetiva e subjetiva. De acordo com a primeira, pela visão tende-se a conhecer a essência de uma coisa ou o que ela é, e ela é o que é por meio de sua forma; tendemos, portanto, a conhecer as formas das coisas; porém, toda desproporção manifesta uma vitória da matéria sobre a forma; o ente desproporcionado não é bom e o conhecimento dele não causa prazer. De acordo com a segunda, a coisa conhecida deve ser proporcional ao observador, o que explica a relação essencial com aquele que apreende a noção do belo (1923). E, por último, a claridade, “o belo é antes de tudo cognoscível. A cognoscibildade é absolutamente necessária ao belo; ela não é senão a clareza, supõe que a coisa seja, não apenas conhecida, mas conhecida facilmente, sem esforço, pelo exercício normal e livre das potências ou faculdades da alma”. (Ivanov, 2006)
Concluímos que para Santo Agostinho a beleza é associada à idéia da revelação e à perfeição de um Deus-Criador ou de uma ordem cósmica preestabelecida. E para São Thomas de Aquino todas as formas são boas e perfeitas, mas, nem tudo que é formal é belo, para isso, a graça divina o serve de complemento.

Agradeço à Thaisa Futenma, pela parceria neste artigo, uma amiga legal.


Bibliografia

IVANOV, Andrey. A noção do belo em Tomás de Aquino / Andrey Ivanov. - Campinas, SP : [s. n.], 2006.

De MUNNYNCK, M. L’esthétique de St. Thomas. In: S. Tommaso d’Aquino, Milano, Vita e Pensiero, 1923.

ECO, Umberto. Arte e beleza na estética medieval, Editorial Presença, 2000.

Nenhum comentário:

Postar um comentário